ANGEOLOGIA AFETIVA: Irmão João Rodrigues

Conversei com uma amiga e o papo girou em torno da importância de ter anjos da guarda para nos acolher em situações inusitadas, pois bem aventurada é a mulher que possui pelo menos um anjo (a) da guarda e bem aventurado é o homem que possui pelo menos um (a) anjo (a) da guarda no fluxo do ser estar aí do mundo. Fui tomado por um sono profundo seguido de sonho profundo, pois a minha escavadeira onírica perfurou e vasculhou a superfície por profundidade de meu HD existencial. Sonhei com um homem careca, paraense, de pequena estatura, que falava manso e tinha um coração acolhedor incrível. Ele se chamava Irmão João Rodrigues. Em 1984 (durante o inverno), meu pai movido por um chamado divino (segundo ele), arrastou minha mãe, eu com apenas 4 aninhos e meu irmão com apenas aninhos em direção a desconhecida Transamazônica. Após vários dias percorrendo e vencendo o medo no caos de vários atoleiros naquelas estradas de chão e barro com pontes quebradas, urros de macaco guariba e onças, chegamos numa vila cercada de mata virgem chamada Rurópolis. Lá estava o baixinho João Rodrigues sozinho ajudando-nos a carregar as mais de 30 caixas pesadas (sistema antigo de mudança focado no excesso\quantidade). Estávamos duros e não tínhamos sequer um couro de onça para repousar nossos corpos exauridos. Aquele homem humilde (dono de um quiosque emissor de comidas caseiras) nos forneceu café, almoço e jantar por mais de 30 dias até meus pais se estabilizarem. Forneceu-nos teto improvisado até a gente encontrar um local seguro. Ele não sabia ler nem escrever, mas sabia escutar, por isso, era portador de cultura. Apesar de tanta cultura, aquele homem era chamado de analfabeto. Ivana Bentes (diretora da ECO-UFRJ) expôs sabiamente que chamar quem não sabe ler e escrever de burro e analfabeto, se constitui num ato de grande estupidez e ignorância, porque o Brasil é marcado pela tradição oral e não pela tradição escrita e acadêmica. Irmão João Rodrigues sabia muitas histórias e estórias de có, por isso, quando ele era escalado para pregar (emitir sermão), ele pedia para alguém ler a narrativa bíblica na hora, e em seguida, ele começava verbalmente a contextualizar aquilo que foi lido com a realidade contextual do momento, pois os textos são divivos, e podem se tornar discurso divino quando o intérprete consegue atualizar e energizar criativamente\espiritualmente no Zeitgeist (espírito do tempo) cada gesto semântico contido no interior mágico das palavras. Apesar de eu ser criança, eu entendia tudo o que aquele homem falava de forma mansa, didática e abensonhada. Em aproximadamente 15 ou 20 minutos (tempo que ele usava), ele se tornava um porta-voz do Sagrado, pois todo espírito criador olha baixo, olha manso, olha abençoador. Durante os 11 anos em que moramos naquela ínfima cidade paraense, aquele homem calvo, foi nosso fiel anjo da guarda. Há alguns anos, perguntei ao meu pai sobre aquele homem, e ele disse: Meu filho! João Rodriguez faleceu...Que pena!!!...Mas ele foi um amigo mais chegado que um irmão. Morreu de forma discreta, sem ser notado, e ajudava as pessoas sem ser notado. Bem aventurado é o homem e a mulher que possui um anjo protetor e encantador, pois eles nos suprem em momentos singulares. No bailar caminhante da nossa vida, podemos ser abensonhados por: - Anjos (as) Guardiões\supridores da nossa estabilidade; - Anjos Guardiões da nossa profissionalidade; - Anjos Guardiões de nossa sexualidade (suprem nossas carências afetivas); - Anjos Guardiões de nossa espiritualidade; - Anjos guardiões de nossa intelectualidade (precisamos deles nos nossos projetos acadêmicos dentro da politicagem, do Sistema que são as Universidades); - Anjos guardiões de nossa imagem... - Anjos guardiões das nossas asas, dos nossos sonhos, projetos e desejos mais que secretos... - Anjos guardiões de nossa privacidade....das nossas loucuras e ternuras.... - Anjos guardiões da nossa casa, morada dos nossos deuses e monstros interiores... A Angelologia da Afetividade é formada por várias personalidades marcadas por poli-competências, pois em cada momento da nossa existência, precisamos de um tipo específico de ajuda. Devemos ser gratos por todos os nossos anjos e anjas da guarda que surgiram em nosso caminho nos libertando de abissalidades fatais para fazer-nos (as vezes) dançar na beira do abismo com segurança e musicalidade, potencialidade e esperança para seguir em frente. No livro Gaia Ciência, Friedrich Nietzsche escreveu: Toda felicidade que há na terra, Meus amigos, vem da luta! Sim, a amizade requer Os vapores da pólvora! Em três coisas se unem os amigos: São irmãos na miséria, Iguais ante o inimigo, E livres diante da morte!

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