Frente a frente com Michel

Domingo eu estava jantando um Dürüm vegetariano sentado numa mesa ao ar livre em Neuestadt /Dresden e Michel estava conversando comigo frente a frente. Michel me falou: eu tenho mania de acusar os outros disso e daquilo, mas tudo que eu acuso os outros, se refere a mim mesmo. Os outros sao espelhos de mim mesmo. Me lembrei de alguns emails de Michel. Em algumas ocasioes possesso de fúria contra mim por besteiras, ele escreveu que eu sou autista. Depois Michel nao lembra mais do que escreveu. Na primeira vez que ele foi mal educado comigo, eu fui firme na resposta e ele recuou. Recorrentemente Michel me fala que sou autista, mas em algumas situacoes ele me falou que ele mesmo é autista. Michel me falou que sou um irmao para ele, por isso, ele descarrega a parte emocional em mim. Jorge Luis Borges em "Livro dos seres imaginários": Sugerido ou estimulado pelos espelhos, as águas e os irmãos gêmeos, o conceito de duplo é comum a muitas nações. É plausível supor que expressões como Um amigo é um outro eu de Pitágoras ou o Conhece-te a ti mesmo platônico se inspiraram nele. Na Alemanha chamam-no Döppelgänger; na Escócia Fetch, porque vem buscar (fetch) os homens para levá-los à morte. Encontrar-se consigo mesmo é, por conseguinte, funesto; a trágica balada Ticonderoga, de Robert Louis Stevenson, conta uma lenda sobre esse tema. Recordemos também o estranho quadro How they met themselves, de Rossetti: dois amantes se encontram consigo mesmos, no crepúsculo do bosque. Caberia citar exemplos análogos de Hawthorne, de Dostoiewski e de Alfred de Musset. Para os judeus, pelo contrário, a aparição do duplo não era presságio de morte próxima. Era a certeza de haver alcançado o estado profético. Assim o explica Gershom Scholem. Uma lenda recolhida pelo Talmude narra o caso de um homem em busca de Deus, que se encontrou consigo mesmo. No conto Willian Wilson, de Poe, o duplo é a consciência do herói. Ele o mata e morre. Na poesia de Yeats, o duplo é nosso anverso, nosso contrário, o que nos complementa, o que não somos nem seremos. Plutarco escreve que os gregos deram o nome de outro eu ao embaixador de um rei.

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