Harmonias e Heresias

No interior do Pará era normal gravidez com 11, 12, 13 anos. No Pará, as garotas se casavam (juntavam com namorados) com 13 anos. Nos anos 1980 e 1990 era prática comum aceita socialmente. Quando nos mudamos do sudeste para a Transamazônica em 1984, experienciamos um choque cultural muito grande. Lá existiam outros valores. Meu pai super metódico e conservador era pastor numa Igreja Batista e agendava cursos de relacionamentos para falar para os jovens e adolescentes sobre "namoro, noivado e casamento" a luz da Bíblia. O meu tio dizia-nos: Sobrinho! teu pai está fazendo papel de otário. Naquela regiao o povo queimava etapas. O casal se conhecia, rolava uma química descomunal, ambos metiam gostoso no primeiro encontro e 3 dias depois já estavam CASADOS morando juntos sem contrato assinado em cartório e sem cerimônias em igrejas. Os filhos nasciam logo em sexos sem preservativos e sem anticoncepcionais. As cidades pequenas e isoladas nao ofereciam perspectivas de estudos, ascencao social para os pré-adolescentes. Fuder, morar junto, gozar todos os dias, era uma forma pragmática de VIVER NO PARAÍSO dia após dia. Minha mae morria de medo do filhao Joe se envolver com o bicho Papao chamado SEXO. Meu filho! Cuidado com o SEXO. Quando fui morar em Manaus, viajei de barco para algumas cidades e vilas ribeirinhas. Lá ocorria o mesmo fenômeno. As meninas se emancipavam com 11, 12, 13 anos. Outra cultura, outros valores, outra forma de raciocinar o mundo. Estao errados? Me lembro que em 2012 fui lecionar na favela parada de Lucas no subúrbio do Rio de Janeiro e os meus alunos de 9 anos me perguntaram logo na primeira aula: tio Joe! o senhor tem filhos? Ainda nao. O senhor tem quantos anos? 32...Ih! entao o SENHOR É BROCHA. Meu pai tem 20 anos e tem 7 filhos. Eu me mijei de rir, mas analisei sobre o tipo de raciocínio lógico daquelas criancas que vivem em outro ambiente social diferente do asfalto. É preciso ter um olhar antropológico para cada sociedade.