O alemão que juntava garrafas para ajudar estrangeiros em apuros

No verão de 2020 me enturmei com um homem idoso na região boêmia em Dresden. Eu conhecia ele de vista juntando garrafas numa esquina badalada em Neuestadt, mas nunca tínhamos conversado. Ele escutou minha história sobre as dificuldades que eu estava experienciando sem visto para trabalhar. Ele me contou que durante vários meses ele juntou garrafas para ajudar uma estudante estrangeira que estava amarrada nas leis com o mesmo documento que a autoridade de estrangeiros me deu durante quase 24 meses: Fiktionsbescheinigung. Ele me falou que é aposentado, recebe aposentadoria e durante as noites aproveitava aquela esquina para beber, conversar com as pessoas e coletar as garrafas que custam 8, 15 e 25 centavos de euros numa esquina. Sem fazer muito esforço físico, ele juntava diariamente as garrafas, e o valor do montante variava entre 10, 15, 20, 30 euros diariamente. Ele me falou que fazia aquilo por amor. Ele me falou: eu tenho direitos que muitos estrangeiros NÃO TEM. Ele recebia pouco na aposentadoria, mas criou uma forma prática e prazerosa de ajudar estrangeiros necessitados com mãos, braços, pernas e pés atados na forte burocracia alemã: juntando garrafas e doando a grana para os aflitos. O saudoso Historiador Eric Hobsbawm escreveu que a história da humanidade foi construída também por pessoas anônimas e EXTRAORDINÁRIAS. Aquele homem careca, de pequena estatura encontra ressonância nos personagens escritos neste magnífico livro "Pessoas extraordinárias: Resistência, rebelião e jazz". Hoje eu estava sentado numa ponte badalada aqui em Leipzig (ponto de encontro alternativo) e vi catadores de garrafas. Minha memória involuntária trouxe esta lembrança histórica: o alemão que juntava garrafas para ajudar financeiramente estrangeiros em apuros.

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