Memórias de Joe Cubas: Infância e adolescência
Published by Joe Black (Joevan Caitano) on 21/03/2021 às 12:45Da primeira série até a quarta-série do antigo primário eu estudava de 7:00 as 11:00. Almoçava correndo e levava marmitas para meu pai e para os peões que ele vigiava nas empreitadas pagas com o dinheiro da minha mãe que lecionava dois turnos para manter aquela lavoura na Transamazônica. Eu ia de bicicleta e as vezes as marmitas entornavam no meio do caminho. Eu subia e descia ladeira levando marmitas amontoadas. Quando eu chegava com o mantimento, meu pai me designava uma tarefa CHATA. Ele exigia que eu ficasse capinando as laterais do caminho que cortava a nossa chácara. Havia uma trilha e em volta o mato crescia. Meu pai dizia que tínhamos que dar exemplo mantendo as laterais limpas para as pessoas trafegarem com conforto. A chácara era enorme e a trilha cortava o patrimônio. Eu começava limpando no norte e quando eu chegava na fronteira do sul o matagal estava enorme na parte que eu começei há 6 meses. O serviço nunca concluía, porque sempre era preciso começar tudo de novo. Meus pais compraram vários lotes à preço de banana e ocorreu o mesmo fenômeno. O mato crescia sem parar. Nos sábados e feriados o Joe filho mais velho era coagido limpar um lote. Eu limpava um e depois era enviado para limpar os outros. Quando eu terminava de limpar o último lote, meus pais COMPRAVAM OUTRO LOTE e o ciclo continuava. Eu voltava limpar o primeiro lote, porque o matagal havia crescido. Fiquei escravizado nesta bola de neve de 1986 até 1991. Minha mãe ACORDOU e resolveu agir após eu ficar reprovado em Matemática na quarta série. Eu conferi o meu histórico escolar e constatei que desde a primeira série meu rendimento escolar foi piorando ano após ano. Me lembro que na terceira série fui salvo pelo gongo. Maxweel Furtado era meu colega de turma e foi aprovado com facilidade porque estudava, fazia os deveres de casa e depois ia BRINCAR. Na quarta série fomos colegas e o óbvio aconteceu. Fiquei reprovado de forma DEPLORÁVEL. Precisei tirar 9.0 para ser aprovado e consegui apenas 3.0. Minha mãe decidiu agir, me colocou numa aula de violão e passou controlar meu rendimento escolar. Foi uma sensação estranha entrar numa sala de aula e ser o ÚNICO REPETENTE da turma. Para uma criança, um ano atrasado é MUITA COISA. Depois que minha mãe agiu eu melhorei em 100% meu rendimento escolar, nunca mais fiquei reprovado e NUNCA MAIS FUI TRABALHAR NA CHÁCARA. O tempo que eu trabalhava de tarde na chácara, outras crianças faziam os deveres de casa e depois tinham tempo livre para BRINCAR. Na outra encarnação quero ter duas coisas que não tive suficiente: tempo para BRINCAR e Educação de base excelente. Fez MUITA FALTA não ter estudado numa escola privada no Ensino Médio. O meu irmão mais novo NUNCA trabalhou na roça, estudou numa Escola Excelente no Ensino Médio e minha mãe patrocinou ele quando ele precisou estagiar após o curso técnico. Meus pais e meu irmão voltaram para o sudeste em novembro de 1995 e meu irmão teve o privilégio de estudar todo Ensino Médio numa Escola Agrotécnica padrão TOP com direito à ônibus escolar que levava e trazia. No Ensino Médio trabalhei de manhã e noite e estudava de tarde. Fiz um ensino médio de péssima qualidade numa escola pública empurrando nas coxas. Trabalhar e estudar é BARRA PESADA.