Teologia pascoalina: Um relato de Joesus

Há mais de dois mil anos nasceu uma criança cheia de saúde e dotada de vida. Herodes que era o Rei daquela província ficou hiper preocupado com os relatos do nascimento do menino do sorriso de ouro e atiçou seu desconfiômetro ao ouvir as notícias mais estranhas sobre o guri do rebuliço de Belém. Esse episódio nos remete ao filme “O Dia em que a Terra parou” no qual mostra o momento em que alienígenas pousam numa cidade excitando uma muvuca geral. O exército e a aeronáutica se mobilizaram para recepcionar aqueles seres incógnitos e talvez, perigosos. Numa tomada súbita, a câmera mostra o movimento de aproximação afetiva simultânea entre uma mulher e um alienígena, entretanto, no momento exato em que ambos iam estender as mãos, um dos policiais se precipita e atira naquele ser desconhecido. Nós tememos o outro desconhecido, e agimos por extinto defensivo em situações arriscadas. Herodes fez o mesmo, e tentou matar aquele menino que veio de outro mundo, chamado príncipe da paz. Ele pensou: “Se nenenzinho ele já é chamado de príncipe da Paz, quando ele virar adulto vai mandar e desmandar e ainda adestrará a mim e os meus. Espada nele já! Quando Jesus completou 12 anos, ele foi levado ao templo de Jerusalém. Os pais (Maria e José) eram crias da catequese e da teologia confessionalíssima e ouviam com ingênua passividade aquelas maquiagens retóricas emitidas pelas bocas da máfia sacerdotal. Jesus Cristinho era novinho, mas não era bobo nenhum pouquinho, porque nas horas vagas entre a carpintaria, a escola ele acessava os joguinhos manuais do “kamasutra kid” e lia Nietzsche na versão infantil adaptada com aforismos em quadrinhos. Aí já viu né, foi só ele se aproximar dos portões sagrados que ele foi possuído pelos extintos mais primitivos de ferocidade retórica diante dos sacerdotes e vendedores, bem como foi tomado por grande ternura ao ver aquelas pessoas inocentes doando tudo, o que tinham para pagar oferendas caríssimas para engodar prazeres ilícitos e ocultos daquela gangue de salteadores da fé humana demasiada humana. Quando Jesus completou 24 anos, José falou: “Meu filho, você já concluiu a Faculdade. Está na hora de agir e se batizar porque senão, você vai virar mocinha dentro da cadeia da vida. Então Jesus foi à luta atrás de emprego, mas não conseguia porque não constava o carimbo do dia de batismo. Ser batizado naquela época era como ser portador de habilidades idiomáticas hoje em dia. Não se cobrava o inglês, mas exigiam o batizês. Devido a enorme urgência, Jesus conseguiu agendar com o batizeiro João que tinha a agenda super lotada, pois a procura era intensa. Jesus escolheu a água, e por tal ato de livre escolha, foi lhe concedido a fonte de águas vivas. O espírito se manifestou em forma de pomba music que batendo as asas cantou discretamente e baixinho: “Esse aí é meu filho amado". Jesus sorriu e a ficha caiu. Após aquele ato batismal, Jesus ficou super energizado e foi expulso para o deserto para ser tentado, no entanto, quando lá chegou, ele encontrou o Diabo depressivo e muito down. Ambos começaram a partilhar experiências de dor e prazer e chegaram a uma conclusão cantando um hino: “Tudo vem de ti Senhor e o que é teu o damos”. E deram tudo de si, pois naqueles momentos de tenebrosidade da alma e aprisionamento do ego, nenhuma tentativa de se achegar ao divino SELF via santidade e sacralidades obsessivas\separatistas dão conta do vazio da janela da alma que clama pelo elo, pela fraternidade que fortalece, pois o poder de Deus se aperfeiçoa nas alianças em meio as fraquezas e rupturas do cotidiano. Então o Diabo levou Jesus ao cume de um edifício e disse: “Mano, ontem eu vim aqui duas vezes com a intenção de me atirar rumo ao abismo, mas uma força estranha me fez recuar. Hoje eu lhe mostrarei as glórias lá de baixo, pois a tua mão livrou minha alma (cara) do chão”. Então Jesus apontando para baixo contou a respeito da parábola do sal da terra e em seguida direcionou o movimento manual para cima e falou sobre o efeito da luz do mundo. E ambos continuaram a jornada no paraíso perigoso e duvidoso. Diz Jesus no Evangelho Gnostico de Tomas: “Quando dois se tornam um, e quando o interior se torna exterior e o exterior interior, e o que esta acima se torna o que esta abaixo, e quando o homem e a mulher se tornam um e o mesmo... então você alcançará o reino”. Ao retornar à “vida real”, Jesus começou a realizar muitos milagres, implementando um novo projeto estético subversivo entrando em conflito com o oficial romance sacerdotal. Primeiro, ele induziu e convenceu as pessoas adorarem a Deus em espírito e em verdade, independente do lugar onde elas estivessem. Ele democratizou e desgeografizou a liturgia corporal, fazendo com que o sistema templário em Jerusalém perdesse grana e visitadores. Segundo, Jesus cativou todo mundo a chamar Deus de paizinho recitando o salmo “Aba Pai”. Então as pessoas começaram a raciocinar: “Se eu posso chamar Deus de forma tão íntima, relax e informal, pra quê que eu preciso viajar até o templo e ainda ter que dar ofertas para a elite sagrada e usar certas etiquetas e formalidades”? E foi uma onda de Cristo em casa geral...ahaha...fudeu o templo. Foi um tal de fazerem reuniões em família com muitas rezas, oraçoes, mas com muita carne, cerveja, mancebos, ninfetas espirituosas e samba judaizantes. Daí surgiu outra possibilidade política através da criação de pequenas igrejas com rebanhos alternativos. Então os interessados procuraram Jesus e perguntaram: “Mestre! O que fazer para pastorear dignamente um rebanho? Então aquele Rabi contou a parábola do reverendo Odedê que pastoreava um lindo rebanho rodeado de batuques, no entanto, na primeira manhã de nervosismo ensolarado, ele deu a primeira chibatada em um daqueles animaizinhos humildes. Alguns dias depois, numa noite de ataque estrelado, ele deu outra bordoada e desafinou a música de outro animalzinho. Depois, perdeu a linha de vez, pois até mesmo em madrugadas silenciosas, ele batia com seu cajado cortante e flamejante em animaizinhos dorminhocos. Um belo dia, ele resolveu prender a ovelhinha dos pêlos de ouro, mas ela havia sido treinada na prova dos saltos à distância desde a fundação dos tempos. Tal ovelhinha, escutou os ruídos das algemas satânicas do “aconselhamento” e cantou: nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia (...); e pulou para uma nova dimensão, pois maior é o que está em nós (a liberdade e a dignidade) do que o que está no mundo (a inflexibilidade e a força cega)”. Então Jesus concluiu a estória comentando sobre a vazão e revolta da chibata quando o verdadeiro dono do Universo disse duramente àquele homem administrador de talentos: Servo grosso e cruel, sobre o muito te coloquei, mas pelas fugas te condenarei: senta no “gozo” do teu Senhor”. Após contar essa parábola, o mestre perguntou: Pedro! Tu me amas? Sim, disse Pepe. “Então, pastoreia e paparica em amor os meus voluntários cordeirinhos, mas cuidado! vás e não peques mais” disse o Rabi contador de histórias. A cada ato de coragem, justiça e caridade, Jesus colocava lenha na fogueira esquentando e sacudindo os caldeirões do Templo. A ameaça cristológica era notória, por isso, Jesus foi submetido a frenéticas perseguições que visavam neutralizá-lo. Um dos alvos era Judas, pois ele era o arquivo secreto das estratégias messiânicas. Ao ser preso, Judas foi torturado e não suportou tamanha agressividade e morreu no sapatinho sem confidenciar os segredos da caixa preta do mestre Emanuel. Nesse período tenebroso, os discípulos começaram inventar clichês e teorias proféticas sobre o Reino do Deus, então Jesus repreendeu-os nietzschianamente recitando um aforismo da tragédia: “O Reino de Deus não é nada que se espere; não possui ontem nem depois de amanhã e não virá em mil anos – o Reino de Deus é uma experiência de um coração e está em toda parte e em nenhum lugar”. Antes que o galo cantasse e fosse tarde demais, Jesus agendou uma ceia com os discípulos e seus respectivos familiares visando comerem e papearem exaustivamente. Então Pedro disse: “Mestre! Se for preciso, até roubaremos para ter o líquido precioso que vem de teu interior. Nossas cervejas (Urina de Cristo) serão fartas e nossa afetividade será exaltada”. Então Jesus convidou-os a assistirem o filme COMILANÇA (La Grand Bouffe, 1973) de Marco Ferreri com o ator Marcelo Mastroiani, seus conchavos e suas putas. Então Thiago e João perguntaram: Rabi, como satisfazer uma mulher durante um ato litúrgico além do uso dos vibradores pão e vinho? Então aquele mestre recitou um poema do livro A ENTREGA da ex bailarina Toni Bentley que alegou ter tido uma experiência com Deus através do sexo anal: “Muitos homens lambem, chupam e sugam uma boceta — e nao estou reclamando. Mas é raro o homem que faz isso com toda a sua consciência colocada na língua. E esta consciência que vai emocionar uma mulher; quando a consciência dela — que esta no clitóris — encontra a dele, os orgasmos marcam um encontro. No final das contas, e ai — ou melhor, ali embaixo — que um homem aprende a ser um vencedor ou um perdedor, tanto com as mulheres quanto na vida”. Enfim, após aquele ato orgiástico de pura fraternidade e louvação aos prazeres da vida, Jesus teve que encarar a dor da morte, que é fonte de dramas, interrogações, medo, angústia e revolta. Ele e os três discípulos mais chegados que irmãos foram orar no monte, mas o cansaço da noite orgiástica e a pressão da máquina mortífera fizeram com que eles dormissem sob os cuidados dos vagalumes e animais noturnos. Então, porque necessitava de mais privacidade, Jesus se retirou para um local mais reservado e elevado para jogar xadrez com a morte. Enquanto jogavam aquele jogo de detalhes, ele ouviu o batuque da gangue dos samurais sacerdotais que visavam aprisioná-lo e levá-lo ao destino para além do bem e do trágico; Então, Jesus embaralhou as peças do xadrez na tentativa de postergar aquele momento inevitável chamado de “o buraco negro da alma e o encontro com a perda da própria consciência”. Então a morte disse: non non nin non non e recolocou as peças nos seus devidos lugares e recitou um frase de Ludwig Feuerbach: “A morte não é, de modo nenhum, uma brincadeira; a natureza não desempenha uma comédia, é, sim, um drama trágico, colossal e sem intervalos”. Jesus foi preso e condenado a morte. Ao chegar à cruz ele viu dois ladrões, um do lado esquerdo e o outro do lado direito. Ambos estavam aflitos e preocupados se iriam para o céu ou para o inferno. Então, perguntaram: “Mestre! Para onde iremos nós se só tu tens as palavras de vida eterna? Então Jesus respondeu: Manos, nem eu sei de onde eu vim e para onde vou e citou uma frase do poeta russo Vladimir Nabokov: “a vida é uma grande surpresa. Não vejo, por isso, razão para que a morte não seja uma surpresa ainda maior”. E continuou mandando Clarice Lispector: “A vida é o desejo de continuar vivendo e viva é aquela coisa que vai morrer. A vida serve é para se morrer dela (...) morrer vai ser o final de alguma coisa fulgurante; morrer será um dos mais importantes atos de minha nossa vida”. E os três cidadaos morreram. Jesus foi assassinado pela cúpula concorrente, e em torno de sua morte, criaram o mito da ressurreição, pois uma linda história e um excelente personagem como foi Jesus de Nazaré, dá pano para manga para a realização de um bom filme com o triunfo de um super herói. Os Faraós no Egito quando morriam, subiam aos céus. Os imperadores romanos quando morriam, também subiam aos céus. Afirmar que Jesus também subiu aos céus, significava dizer: Se os vossos Imperadores morrem e sobem magicamente ao céu, o nosso Jesus também fez a mesma coisa. Estamos em 1 x 1. Os primeiros cristaos nao quiseram ser subalternos e AFRONTARAM a religiao oficial: O PODEROSO IMPÉRIO ROMANO. O enfrentamento custou a vida de milhares que foram jogados na arena com LEOES FAMINTOS no terrível coliseu romano. Eu imagino qual seria a cara de Jesus se subitamente ele acordasse (ressuscitasse) e resolvesse dar um rolé pelas igrejas no planeta para ouvir o que as pessoas dizem e fazem em nome dele. Eu acredito que se ele tivesse uma postura exigente e conservadora, ele ficaria muito chateado e mandaria geral tomar no cu, mas se ele tivesse um olhar de cineasta poliocular e experimentalista, ele simplesmente concordaria que tudo não passa de adaptações e interpretações, sendo algumas realizadas com primor e outras não. O legado traditivo de Jesus são como Notas do subterrâneo que é uma obra metadiscursiva, feita do discurso do discurso, composta de polifonias no qual cada autor torna-se orquestrador de discursos independentes e mutuamente relativizantes. Talvez, ele falaria que a narrativa original é portadora de narradores cambiantes que alteram seu discurso e idéias enquanto narram; eles mudam a olhos vistos; o narrador muda em função daquilo que acontece como fez Dostoievsky com domínio da técnica do narrador não confiável. Provavelmente, Jesus recomendaria o filme Rashomon (1951) de Kurosawa, em que a história de um crime é contada de quatro formas radicalmente diferentes embora igualmente plausíveis, constituindo num exemplo nítido de narração problemática devido as variadas perspectivas na forma de narrar. Feliz páscoa

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